sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Práticas educativas através das redes sociais:Elementos Facilitadores e Dificultadores.

  Apesar de todos os avanços tecnológicos das últimas décadas, existem, ainda, desafios a serem enfrentados pela rede do ensino básico, entre os quais está a utilização das ferramentas tecnológicas a favor de uma educação de qualidade. Vivemos no mundo da tecnologia, onde não se questiona mais sobre a utilização ou não desses recursos, mas sim a melhor forma de utilizá-los na instituição de ensino e colocá-los a serviço do desenvolvimento cognitivo e afetivo, da formação de valores, da cooperação e da solidariedade transformando as relações humanas, garantindo o direito à educação, direito básico, que possibilita o acesso aos outros direitos e à cidadania plena.
  Quando se pretende alcançar determinado objetivo o conhecimento é a premissa para o sucesso da  proposta. Educadores e educandos devem criar um ambiente de aprendizagem de acordo com o currículo pensado, pois assim há muito mais possibilidades de se chegar ao objetivo proposto.
   Montanaro, em seu texto A INTERNET E A INCLUSÃO DIGITAL trata da exclusão digital como uma característica muito particular de estar sendo inserida na rotina e no cotidiano social, independentemente de classe, etnia, religião, sexo ou tantas outras diferenças, tratando quem não se adéqua a ela como um estrangeiro deslocado. Ele afirma:
A sociedade em rede da qual se tem falado não é um fenômeno que se dá pela livre e espontânea vontade de todos os indivíduos do espaço comum, mas sim como uma nova ordem social que emerge enquanto alternativa às dinâmicas que se estabelecem em um mundo cada vez mais conectado, cada vez mais globalizado. Se outros eventos (como correntes filosóficas e políticas, ideologias, etc.) contam com a adesão, ou o desejo de participar de seus atores, a sociedade conectada à era da informação eclode internamente de tal forma que se retroalimenta o suficiente para que os diferentes sujeitos não tenham mais como escolher livremente estar ou não inseridos.
MONTANARO, Paulo Roberto in A Internet e a Inclusão Digital, p.4

              A utilização das redes sociais na educação é um grande desafio, embora praticamente todos os alunos saibam as técnicas de utilização, falta conscientização e orientação para o uso das redes na promoção da inteligência coletiva e da colaboração para que a aprendizagem seja realmente  significativa e relevante socialmente.
         Ressaltamos as facilidades e dificuldades para o uso das redes sociais como ferramenta pedagógica para potencializar a aprendizagem. Como se vê, o que nos preocupa não é exatamente a utilização dessas ferramentas, uma vez que todos os alunos dominam e acompanham as modernizações dos mesmos e de seus aplicativos, cada vez mais autoexplicativos e eficientes. O que nos cabe aqui como reflexão é a tutoria dessa aula, que ainda deve ser do professor. Este sim carece de uma formação adequada para otimização do tempo/espaço com metodologia adequada à proposta pedagógica e utilização dessa ferramenta, que fica em cima da carteira escolar.
            A quem cabe essa formação? Quem tem experiências efetivas colocadas a favor dos docentes da rede pública de ensino? O que dizem as pesquisas sobre políticas da formação docente?
            As pesquisas cresceram nos últimos anos e o mapeamento da produção acadêmica na área de educação, segundo Andre (2009) mostra que em 1990 a formação de professores girava em torno de 7%, passando para 22% no início de 2000 e chegando a 53% do total dos estudos, em 2007. A intenção é de ouvir os professores para saber o que pensam, sentem e necessitam para alcançar um ensino de qualidade que se reverta em uma aprendizagem significativa para todos os alunos, diz o autor.
 O mundo mudou muito nas últimas décadas e valores, saberes, tecnologias e forma de trabalhar na escola também se alteraram. Por força dessas mudanças, é necessário introduzir novas formas de organizar e realizar o nosso trabalho. Outro aspecto importante é adolescentes e jovens não toleram mais a escola da forma como ela se apresenta. Hoje, eles necessitam de estímulos e outras motivações, pois ter somente um professor para transmitir informações não lhes parece suficiente. Freire (1970) propôs uma nova educação que ia contra a Educação Bancária que ele criticava pelo fato desta passar conteúdos de forma descontextualizada, sendo que o aluno deveria receber o conhecimento de forma passiva, sem conhecer sua realidade e sem propor reflexão ou quaisquer questionamentos sobre isso. Freire propôs a Educação Libertadora, no qual o processo de ensino-aprendizagem não é imposto, mas é desenvolvido por meio do diálogo e da troca de experiências entre alunos e professores. Sendo assim, o aluno, como individuo, constrói seu próprio conhecimento e é a partir daí que se apresenta o contexto das redes sociais, onde alunos e professores compartilham informações, conhecimentos e trocas de experiências vivenciadas tornando o aprendizado mais construtivista.
 No entanto, pressupõe-se que a sociedade em rede está colocada e aqueles que não estão inseridos nesse contexto, seja por opção pessoal ou por falta de condições financeiras para ter acesso às tecnologias, estão à margem social.  Freire, 2010,  nos ajuda a pensar sobre a questão de se tentar inserir um elemento na cultura e na sociedade sem a reflexão, buscando somente a familiaridade com ferramenta de forma técnica:
A visão tecnicista da educação, que a reduz a técnica pura, mais ainda, neutra, trabalha no sentido do treinamento instrumental de educando. Considera que já não há antagonismo nos interesses, que está tudo mais ou menos igual, para ela o que importa mesmo é o treinamento puramente técnico, a padronização de conteúdos, a transmissão de uma bem-comportada sabedoria de resultados. [grifos do autor] (FREIRE, 2010, p.79)
            Como esperar que uma sociedade onde grande parte de seus indivíduos ainda não sabe ler ou escrever tenha condições de se apoderar de todas as potencialidades de um meio que, por mais que se utilize de tantas linguagens diferentes, ainda se baseia prioritariamente no texto escrito? Ou, mesmo aquelas pessoas que são munidas de letramento, o que esperar se não há um trabalho intenso de mediação e de construção de sentido para se apoderar daquela mídia para transformação de sua realidade? A questão da exclusão digital está, sobretudo, ligada a um universo muito maior, o da educação.
          O ponto principal e que aqui se destaca é a necessidade de novo perfil profissional para enfrentar os desafios de ensino e de aprendizagem no momento atual e no futuro. Isso requer que os docentes trabalhem coletivamente e adquiram competências pedagógicas baseadas em novos fazeres, o que exige da própria escola uma maior responsabilização sobre a gestão de todos os profissionais que lá estão.
            Dentro das novas condições em que nos encontramos, a configuração do trabalho em equipes tornou-se um fator crucial para o bom êxito da escola, pois as equipes são capazes de melhorar o desempenho das pessoas que lá estão. Enquanto tarefas exigem esforços individuais, o trabalho coletivo desponta para múltiplas habilidades e reconhece talentos, experiências e apresenta resultados mais eficazes. Equipes dosam medidas, são mais flexíveis, dividem responsabilidades. Assim, têm capacidade para se estruturar e criar ou recriar novos planos de trabalho.
          Para mediar o trabalho coletivo pautado pelas tecnologias da informática e da telecomunicação, a equipe deve reunir seus membros: professores, direção e mediadores em alguns encontros presenciais, dentro de um espaço físico pensado para essa finalidade de trocas de experiências e acompanhamento e atualização da proposta.
Quando se pretende alcançar determinado objetivo o conhecimento é a premissa para o sucesso da proposta. Educadores e educandos devem criar um ambiente de aprendizagem de acordo com o currículo pensado, pois assim há muito mais possibilidades de se chegar ao objetivo proposto.
          Se a internet é uma ferramenta importante no processo dessa aprendizagem e está cada vez mais próxima dos alunos e professores, a proposta de seu uso adequado é que fará toda diferença na força desse trabalho, ao revelar o currículo na sua notória importância pedagógica. As redes sociais por si só não favorecem o aprendizado, daí a importância do uso criterioso e vigiado, com atitudes respeitosas e éticas. Elas podem ampliar as possibilidades de aprendizagem através do seu poder de compartilhamento. É também nesse espaço que os professores podem enviar tarefas referentes às aulas, postar links de pesquisa, trabalhar vídeos e aulas agendadas, além de divulgar resultados das provas e trabalhos realizados em sala de aula.
As redes sociais devem insistentemente contribuir para o processo educativo nas escolas da educação básica, pois o que se vê diariamente é o uso de ferramentas - facebook, twitter, what'up, utilizadas quase tão somente a favor da comunicação social, para estabelecimento das relações interpessoais. Há, ainda, um sistema operacional instalado nos computadores dotado de aplicativos relativamente simples, criados para possibilitar que o usuário realize alguns trabalhos rápidos.
 Através da conscientização dos profissionais da Educação, dos pais e dos alunos, a redes sociais não vão desviar a atenção dos alunos e atrapalhar o rendimento da aula como muitos ainda pensam. Ao contrário, podem ser utilizadas no processo educativo na direção de preparar os alunos para serem mais autônomos, flexíveis, criativos e prontos para o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias ao mundo do trabalho.
         No trabalho com as redes sociais, o professor oferece um amplo campo para o diálogo, manifestação de dúvidas - fóruns - além de utilizar recursos e ambientes interativos, os quais incentivam as trocas de saberes entre os alunos. É dessa forma que se aprende a respeitar opiniões alheias. A aproximação entre professores e alunos dentro das redes sociais, com foco na educação de qualidade, fortalece os vínculos sociais nas salas de aulas permitindo um avanço na cultura educacional das instituições de ensino, e é por este e outros motivos que as redes sociais contribuem com sucesso para o aprendizado.
          O que se espera de uma proposta que acompanha as demandas desse novo tempo é que professores e alunos utilizem, além das redes sociais, outros aplicativos que facilitam a interatividade, o compartilhamento de informações, o trabalho colaborativo e o design centrado no usuário, a exemplo dos Blogs, fotologs e videologs. São sites que contém uma padronização prévia sobre a forma de apresentação dos diversos conteúdos inseridos por seu(s) autor(es) ao longo do tempo. Os Blogs são mais comumente associados a conteúdos textuais (mas também permitem inserção de elementos multimídia, como imagens, vídeos, músicas, scripts interativos, etc.); fotologs são blogs específicos para divulgação de imagens estáticas; videologs são específicos para publicação de vídeos e esses aplicativos comumente estão associados a espécies de diários pessoais e profissionais, e apresentam interfaces bastante amigáveis para usuários sem conhecimentos de programação Web, como é o caso dos fóruns de discussão utilizados em nosso curso EAd.
 Referências
MONTANARO, Paulo Roberto. A Internet e a Inclusão Digital - OFICINAS TECNOLÓGICAS - MATERIAL DIDÁTICO
MONTANARO, Paulo Roberto. Uma Sociedade em Rede - OFICINAS TECNOLÓGICAS - MATERIAL DIDÁTICO
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1970.

Autores:
Cristiane Andrade Vieira
Luiza Cristina Simplicio Moura
Sueli Vitória Zurssa
Vera Lúcia Nicomedes Macedo

domingo, 14 de dezembro de 2014

Educação e Inclusão Digital


O Papel da Inclusão Digital na Gestão Escolar

Muito se fala da inclusão digital, da disposição de computadores, do acesso à internet e da aprendizagem da técnica de uso destes nas escolas, como se só isso, fosse suficiente para  integração dos alunos ao mundo globalizado, à era da informação e do conhecimento. Esta disponibilidade de acesso é só a base para construção do conhecimento, interligando diferentes realidades e espaços, identificando semelhanças e diferenças, refletindo e atuando, desenvolvendo o senso crítico, a autonomia e o comprometimento com bem comum essenciais para construção da sociedade da informação democrática e includente.
A sociedade em rede em que vivemos faz da escola um micro ponto desta. A gestão escolar tem a incumbência de fazer do espaço escolar um ponto de conexão, não só com a comunidade local, mas com o mundo. As tecnologias de informação e comunicação devem estar disponíveis, acessíveis e utilizadas com responsabilidade e criticidade para o desenvolvimento da formação integral favorecendo o trabalho docente e dinamizando o processo de ensino aprendizagem. De acordo com Castells:
 [...] difundir a Internet ou colocar mais computadores nas escolas, por si só, não constituem necessariamente grandes mudanças sociais. Isso depende de onde, por quem e para quê são usadas as tecnologias de comunicação e informação. O que nós sabemos é que esse paradigma tecnológico tem capacidades de performance superiores em relação aos anteriores sistemas tecnológicos. Mas para saber utilizá-lo no melhor do seu potencial, e de acordo com os projectos e as decisões de cada sociedade, precisamos de conhecer a dinâmica, os constrangimentos e as possibilidades desta nova estrutura social que lhe está associada: a sociedade em rede. (CASTELLS, 2005, p.19)

Henry Jenkins (2008, p. 50) destaca que enquanto o foco permanecer no acesso, a reforma permanecerá concentrada nas tecnologias; assim que começarmos a falar em participação, a ênfase se deslocará para os protocolos e práticas culturais.
            A informação, a comunicação, enfim a interação da comunidade escolar em rede é um grande desafio para equipe gestora que deve abrir os canais de comunicação on-line como blogs, perfil nas redes sociais, e-mail e mensagens, mantendo-os atualizados, coletando opiniões e sugestões, dando feedback, promovendo a participação de todos, contribuindo para gestão democrática.
            Cabe a gestão escolar oferecer espaço virtual interativo para construção coletiva, pois de acordo com Paulo Roberto Montanaro a sociedade em rede não é simplesmente um emaranhado de pessoas penduradas por meio da tecnologia, onde elas se conectam, conversam umas com as outras, batem papo ou tem acesso a um universo de informações de todos os tipos. Este espaço virtual precisa estar a serviço do conhecimento da realidade, da  compreensão e intervenção desta, buscando recursos para transformá-la.
            Paulo Roberto Montanaro destaca que a inclusão digital não deve abordar somente a questão tecnológica, mas principalmente as questões políticas, sociais e educativas. Estar incluído digitalmente, não é só poder e saber usar as tecnologias de informação e comunicação é preciso muito mais, o acesso à educação é primordial para que a inclusão digital seja realmente alcançada. Montanaro afirma:
A inclusão digital se dá, portanto, não com o acesso à tecnologia pura, mas sim como parte de um processo de inclusão social. O uso das tecnologias deve buscar, antes de tudo, um avanço no bem-estar de todo um grupo social, favorecendo sua cultura, suas necessidades e suas particularidades. Somente desta forma a massa excluída estará, de fato, inserida neste ciberespaço. E o papel de um gestor educacional é absolutamente central nesse processo, assumindo a liderança no debate da comunidade escolar para que se encontrem caminhos de se inserir as tecnologias digitais nos processos de ensino e aprendizagem de forma contextualizada no projeto político-pedagógico. (MONTANARO, 2014, p. 7)

Mercado L. P. (Org.) Em Aberto, Brasília, v. 22, n. 79, p. 91-103, jan. 2009. Aborda as novas tecnologias como propulsoras para o desenvolvimento das capacidades cognitivas e comportamentais favorecendo a formação da cidadania contribuindo para uma melhor compreensão das questões globais e locais para novas formas de pensar e fazer a educação, sendo a escola o espaço privilegiado para promover a alfabetização midiática como parte do processo de ensino aprendizagem vinculada ao projeto político pedagógico da escola visando o desenvolvimento integral em suas dimensões cognitivas, sociais e afetivo-emocionais.
A reelaboração do Projeto Político Pedagógico tem como objetivo não só abordar o uso das tecnologias digitais no processo de ensino e aprendizagem, mas também possibilitar a comunidade escolar a participação em rede, principalmente àqueles que devido ao trabalho ou outros compromissos não possam comparecer pessoalmente à escola nos encontros agendados.
A escola tem a responsabilidade e ao mesmo tempo a oportunidade de propiciar aos seus alunos a inclusão digital com o uso das tecnologias de informação e comunicação, assegurando que a aprendizagem seja resultante de um processo educativo relevante para o sujeito que aprende e para o seu desenvolvimento como ser humano e social, promovendo sua participação na sua comunidade local e global, assumindo e enfrentando o desafio de expandir a sociedade em rede.
Referências

CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo: A Sociedade em Rede do conhecimento à acção política. In: Conferência. 4 e 5 de março de 2005. Centro Cultural de Belém. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2005. p. 434.

JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 2ª ed. São Paulo: Aleph, 2009.

MERCADO, Luis Paulo. Integração de mídias nos espaços de aprendizagem. Em Aberto, vol.: 22, Nº 79. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Nacionais Anísio Teixeira (Inep). Brasília, Jan. 2009. Disponível em: www.oei.es/pdf2/em_aberto_vol_22_n_79.pdf. Acesso em 05/11/2014.

MONTANARO, Paulo Roberto: A internet e a inclusão digital - Material Didático das Oficinas Tecnológicas. Curso de Gestão Escolar. 2014. p. 10.